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12 de nov. de 2008

Uso indiscriminado dos faróis de xenon é um tormento que será proibido em breve

RIO - A jovem F. ficou traumatizada após ser assaltada ao volante de seu Celta. No intuito de se proteger, mandou pôr película escura nos vidros do carro - inclusive no pára-brisa, o que é proibido por lei. É óbvio que a visibilidade foi reduzida. Para compensar a escuridão, F. instalou um kit com lâmpadas de xenon em seu carro. A estrada ficou mais iluminada. O mesmo aconteceu com as laterais da pista, o topo dos postes, a traseira dos carros que vão adiante... A "solução" encontrada por F. virou moda e também um transtorno para os demais motoristas. Acenda uma vela quem nunca sofreu com a explosão luminosa vinda na contramão.

O desejo pelos faróis de gás xenônio surgiu na virada da década, quando os primeiros automóveis importados com esse equipamento chegaram ao Brasil. Em pouco tempo, os kits começaram a surgir nas lojas, a preços exorbitantes. Hoje, há produtos vendidos por R$ 400. O xenon se democratizou e agora é visto em carros populares, em picapes de luxo e também na Resolução 294 do Conselho Nacional de Trânsito (Contran), que regulamenta o uso dessas lâmpadas superpoderosas.

A norma que foi publicada no dia 17 de outubro segue a legislação européia. A partir de 1º de janeiro de 2009, carros com xenon deverão ter sistemas de lavagem dos faróis e ajuste automático do facho luminoso ligado à suspensão - a direção da luz será sempre corrigida para evitar ofuscamento de quem trafega em sentido oposto.
Só na fábrica

Eis a questão: apenas faróis instalados nas linhas de montagem das fábricas de automóveis têm condições de atender à norma. Seria economicamente inviável fazer o serviço em lojas de acessórios. Sem o jogo de luzes, a festa deve acabar.

O problema da lâmpada xenon está na intensidade da luz, calculada em lúmens. O facho emitido por uma lâmpada convencional, halógena, é de 1.000 lúmens. A resolução do Contran se baseia nesta medição: em nenhum momento do texto o conselho menciona o xenon. Porém, para este tipo de lâmpada gerar o facho na cor permitida por lei - no caso, branca - é preciso que a luminosidade seja de, aproximadamente, 3.000 lúmens.

As lâmpadas xenon de fábrica do C4 Pallas, por exemplo, têm fluxo de luz de 3.150 lúmens em faróis adequados para isso, com os lavadores já incluídos. O mesmo acontece com o Toyota Corolla SE-G.

- O projeto do farol é feito considerando um tipo específico de lâmpada. As de xenon têm geometria e comportamento óptico diferentes das convencionais. É preciso fazer um cálculo adequado a elas - afirma Salvatore Blanco, responsável pela área de pesquisa e desenvolvimento da Magneti Marelli Iluminação.
Refletor comum não combina com xenon

Ao combinar lâmpadas de xenon com faróis convencionais, fica a impressão de que o motorista está andando sempre com o facho alto ligado.

- A luminosidade difusa do xenon direciona o facho luminoso a regiões inadequadas. Na maioria dos casos, isso causa forte ofuscamento dos motoristas que circulam no sentido contrário, podendo provocar graves acidentes - explica Blanco.

A Osram chegou a fabricar um kit xenon para o mercado de reposição, mas desistiu de comercializá-lo devido aos problemas que causariam. Hoje, a empresa produz apenas para a instalação na linha de montagem dos automóveis, em faróis projetados para isso.

- Um computador de alta capacidade de processamento leva uma semana para calcular como deve ser a superfície de um refletor, é algo muito mais complexo do que simplesmente trocar uma lâmpada - diz Cirilo Moscatelli, gerente nacional de vendas da Osram.

O mercado está ainda repleto de lâmpadas "tipo xenon". Algumas são produzidas por fabricantes de renome e até são equipamentos de série em alguns carros nacionais. As que emitem facho branco (como as usadas na linha Vectra) são permitidas. A luz azul é proibida. E não há restrições à cor do bulbo.

- As vantagens são o conforto e a sensação de mais luz devido à coloração da lâmpada, mas a potência é muito próxima à das lâmpadas amarelas. Por outro lado, normalmente elas apresentam uma vida útil inferior à das lâmpadas convencionais, ou seja, uma freqüência de queima maior - explica Blanco.

Mesmo a simples troca das lâmpadas amarelas por outras de luz branca exige atenção. Deve-se sempre optar por conjuntos de 55w ou 60w, nunca de 100w, pois estes danificam a parte elétrica. Mesmo que o relê seja trocado (como muitos instaladores sugerem), a temperatura da lâmpada pode derreter ou escurecer os faróis.
Alta voltagem

Enquanto acesas, as lâmpadas de xenon consomem menos energia do que as convencionais e têm maior durabilidade, argumentos amplamente usados pelas empresas que vendem os kits. O problema, porém, é no momento de ligar os faróis. A parte elétrica deve estar em perfeita ordem para suportar o pico repentino de carga.

- O pulso de um conjunto de xenon chega a 20 mil volts, por isso é necessário o uso de um reator para acioná-lo. Uma faísca na carroceria pode causar um acidente. Não é à toa que os kits de instalação independente foram proibidos em países como EUA e Japão. O Brasil vai pelo mesmo caminho, com a nova resolução do Contran - diz Cirilo Moscatelli, da Osram.

Além do reator, o kit é composto por uma lâmpada com gás xenônio em seu bulbo, soquetes e cabos. Grosso modo, o funcionamento é semelhante ao das lâmpadas fluorescentes usadas em casa ou em iluminação de ruas.

A diferença está no gás. Lâmpadas que iluminam ruas usam vapor de mercúrio, que precisa de um certo tempo para emitir luz, algo impensável quando falamos de carros. Já o xenônio é ativado rapidamente.

Fonte: O Globo
link: http://oglobo.globo.com/economia/seubolso/mat/2008/11/12/uso_indiscriminado_dos_farois_de_xenon_um_tormento_que_sera_proibido_em_breve-586365657.asp

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